domingo, 15 de novembro de 2009

Além do Quadro-Negro

Era novo no emprego, tinha alguns anos de magistério. Lecionava História em um colégio só para meninas. Era muito querido por todos os funcionários, e mantinha sempre um limite na amizade com as alunas.
O corpo docente era majoritariamente masculino, e a sala de descanso dos professores parecia, às vezes, um choppinho com os amigos. Falam sobre tudo e de todos. O ano estava apenas começando.
Entrou na sala pisando firme, subiu no tablado e começo o discurso do primeiro dia de aula. Os alunos estavam se apresentando, quando de repente o ranger da porta invade a sala e surge uma aluna nova, visivelmente atrasada e envergonhada.
O dia seguiu sem maiores problemas, e ela logicamente foi o assunto principal na pauta de discussões dos amigos com licenciatura. Tinha uma presença marcante, um rosto delicado e um olhar penetrante. O bolachudo professor de literatura tinha certeza de aquela menina, deveria ser parente da musa inspiradora de Machado de Assis ao descrever Capitu.
Com o passar do tempo, ela se mostrou mais do que um rostinho bonito. Tinha um espírito alegre, falava muito, fazia amizade com todos e raciocinava rápido. Era impossível não se sentir cativado, pelo menos era isso que ele pensava. Todos gostavam dela, mas ele queria ver além do que mostrava. Ela se tornou seu objeto de estudo.
Construíram um vínculo, gostavam das mesmas coisas. Ou ele era imaturo demais para idade, ou ela que era muito madura. Talvez, um pouco dos dois. Conversavam sobre historia, política, religião, música, mas depois que falaram sobre sexo a relação mudou. Tornaram-se íntimos demais.
O objetivo dele ficou bem claro, e o estranhamento entre os dois durante alguns dias era inevitável. Ela era maior de idade, estava no seu último ano de colégio, mas ainda assim não sabia bem como reagir à situação. Dentro de sala existia um distanciamento, mas do lado de fora da porta a situação era bem diferente.
Saíram algumas vezes, ele tinha sido seu primeiro homem. Encontravam-se no intervalo entre uma prova e outra que ele estava corrigindo. Os amigos dele alertavam sobre os perigos de um envolvimento maior, aquela menina era confusão na certa. O professor de francês repetia sempre: “
Est una petit diable! Una petit diable!”
Ele sabia que aquilo não ia acabar bem, ela também sabia, mas continuavam naquele masoquismo. Ela morria de ciúmes, mas não abria a boca para comentar nada. Ele morria de medo do que poderia acontecer. Mesmo assim, quase todo final de semana estavam juntos.
Com o decorrer do tempo, se tornou cada vez mais complicado lecionar para aquela turma. Boa parte da sua atenção era desviada para uma caneta que repousava nos lábios dela a aula toda. Ainda bem que a festa de formatura estava chegando, e logo os vínculos dela com a instituição acabariam.
Finalmente Dezembro chegou, agora estavam no meio de um grande salão, com trajes a rigor para o evento. Ele parecia um astro de Hollywood. Ela estava digna da realeza. Aproveitaram cada momento, mais separados do que juntos. Ele já tinha outra. Ela agora era passado. A festa acabou e com ela o pseudo-relacionamento deles.

4 comentários:

  1. Muito bom, minha menina de ouro! No entanto, não acho que seja prudente de minha parte fazer mais comentários sobre essa postagem!:D
    Um beijo!

    ResponderExcluir
  2. "Corpo docente não muito decente." ;D


    Olha o trocadilho.
    Como sempre muito legal.
    BEIJUS PESSOA!

    ResponderExcluir
  3. Muito bom o texto Erika! Fica até meio suspeito comentar disso, porém acho que tem tudo a ver...

    hahahah

    Beeijos

    ResponderExcluir
  4. O bolachudo professor de literatura...

    Festa de Formatura!!!

    ADOREI!!!

    Bj

    ResponderExcluir