domingo, 18 de abril de 2010

Lar, doce lar

Primeiramente, gostaria me desculpar com os leitores do blog pela ausência de contos. Pouco tempo e excesso de trabalho. Para matar a saudade escrevi um micro-conto. Espero que gostem.

O
quarto estava bagunçado como sempre. Roupas pelo chão, cama por fazer, armários abertos e janelas fechadas. O escritório parecia uma banca de jornal abandonada, repleto de papeis, revistas e livros de um tempo que não voltaria.

Na sala, o sofá quebrado recordava a briga. O tapete estava rasgado, sem formato. A sujeira na parede formava um desenho abstrato. No chão o lixo contava uma história.
Os pratos formavam a Torre de Pisa na pia da cozinha. O fogão de branco passou a amarelo. Os livros davam apoio à mesa bamba. As moscas agiam como turistas curiosos.
Na casa se escutava um único som, a torneira do banheiro que pingava continuamente.
Os tacos de madeira se soltavam a cada passo. Desmoronando, o lugar precisava de inúmeros reparos. Apesar dos consertos anteriores, de alguma forma, o ambiente continuava em processo de decomposição.
De fato, era necessário alterar as estruturas. A base não era sólida, e sem cuidados, o lugar deveria ser interditado. Ninguém tomou conhecimento. Nem o sol visitava mais aquelas janelas.

Todos desistiram, e a casa era a síntese do homem. A cada dia se destruía um pouco mais. E o homem com ela deixava de existir.