terça-feira, 9 de março de 2010

Strange Love-Final

Ouviu um barulho, que inicialmente não sabia distinguir. O seu choro era o som mais marcante, até que depois de sossegar os seus olhos, reconheceu a música. Um calafrio percorreu a sua espinha e um pensamento estranho cruzou a sua mente. Ela agora sabia a onde estava. Antes tivesse ficado nas sombras do conhecimento.
5a Sinfonia Beethoven tocava ao fundo, a caixa de som parecia explodir, e ela apenas pensava se poderia ser mais clichê. Sabia agora que estava no porta-malas de algum carro e temia pelo destino final. Na sua cabeça tudo parecia muito vago.
O veiculo perdia velocidade como se estivesse estacionando. Não fazia idéia de como tinha ido parar ali ou do que iria acontecer, mas com certeza não era uma festa surpresa.
Não ouvia mais nenhum som, tentou acalmar o seu coração por medo de que o pudessem ouvir.
Uma luz forte, foi a única coisa que viu quando o porta-malas se abriu. Estava com um saco na cabeça, sendo arrastada em algum lugar úmido, pelo cheiro deveria ser pela grama. A terra molhada antes lembrava a infância, agora era registro de uma noite de pânico.
Tentou gritar, para seu infortúnio, apenas a mão pesada em sua gola a ouviu. Não conseguia mais chorar, sabia que aquela era o seu fim. Não conheceria a Europa, nem poderia se desculpar com os que amava. Naquela noite, morria a dona de uma vida vazia, pensou ela.
Quando se deparou com o seu monstro não pode acreditar. Era o Hercules do seu trabalho, o homem mais lindo que ela conhecia. Sem conseguir pronunciar uma palavra, apenas ouviu a declaração mais grotesca de todas, de um amor bruto e doente que não desejava mais divida-la com o mundo.

Sabia que não tinha mais como fugir. Foi usada, beijada e descartada como um pedaço de papel. O seu sonho de consumo virou um pesadelo, e sentia um nojo enorme de si, dele e do que tinha acontecido. A cápsula de cianureto prometida parecia à única solução para uma dor que nunca iria acabar. Engoliu em seco e fechou os olhos para o infinito.


terça-feira, 2 de março de 2010

Strange Love

Suas cordas vocais não obedeciam mais. Ainda conseguia chorar, mas apenas isso.Aquela semana representava o paradoxo que era a sua vida, e ela pensava no que não tinha feito, no que não tinha dito, no que iria acontecer. Esforçou-se para entender o que estava acontecendo.
Há dois dias tinha sido convidada para viajar a trabalho pela Europa, estudando a história da arte de perto. Aquele era o dia mais feliz de sua vida, sempre desejou colocar uma mochila nas costas e dar a volta ao mundo. Conhecer a Europa era um bom começo.
Saiu para almoçar com a sua melhor amiga, contou sobre a promoção e sem que nem porque discutiram, não se falavam desde então. Ainda naquele dia, algo fora do comum aconteceu, o homem mais lindo que ela conhecia parecia estar muito interessado no seu trabalho, nas suas teses e teorias.
Depois de uma longa noite de sono, o dia seguinte parecia promissor. Recebeu as passagens, deveria viajar em uma semana e retornaria em quatro meses. O Deus grego voltou a visitar a sua mesa, tomaram um inocente café, que de puro só tinha o conteúdo da xícara.
Com o passar das horas se sentiu tomada por um sentimento de culpa, ainda que nada físico tivesse acontecido, ela tinha um namorado. Resolveu ir para casa, não conseguiria pensar em mais nada. Assim que chegou tirou os sapatos, encheu uma taça de vinho e se deixou cair no sofá. A insônia estava a sua espera.
Finalmente voltou mentalmente ao dia atual. Tinha ido trabalhar como sempre, visitou algumas galerias e almoçou na sua mesa mesmo. Desistiu de pedir desculpas a sua melhor amiga e há apenas algumas horas tinha dito não ao pedido de casamento do homem da sua vida, seu namorado ou ex, não sabia mais dizer. Extremamente atordoada resolveu trabalhar a noite toda, e agora, só tinha certeza de que não estava mais na galeria.
Ainda tonta, abriu os olhos e sabia que estava presa em algum lugar muito estreito e quente. Gritou por ajuda até ficar sem voz. Estava, literalmente, de mãos e pé atados, sem noção alguma do que estava acontecendo ou do que estava porvir. ( Continua...)